20 anos de Labriola: Era uma vez um aprendiz de ourivesaria…
- Ateliê Labriola
- 14 de jul.
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Uma armação de óculos quebrada. Foi assim que tudo começou. Bastou um pequeno acidente para que Geraldo Labriola descobrisse o ofício que viria a ser sua grande paixão. O cheiro do metal fundido, o calor da oficina, o brilho contido nas ferramentas: aquela visita ao cunhado ourives para soldar as hastes danificadas despertou nele um sentimento antigo, como um chamado que vinha de longe. Com quase 15 anos, Geraldo entendeu que seus sonhos poderiam florescer na ourivesaria — e dali em diante, nunca mais deixou a chama se apagar.

Desde criança, ele já demonstrava gosto por bricolagens e trabalhos manuais. Mas foi sua irmã quem deu o empurrãozinho decisivo: ao ver o marido temporariamente sem aprendiz, sugeriu que Geraldo ocupasse a bancada. A experiência deu tão certo que, pouco tempo depois, ele foi aceito como aprendiz na oficina do Messias, amigo do cunhado. Ali, mergulhou de cabeça. Aprendeu técnicas, trabalhou com metais diversos e desenvolveu um acabamento tão refinado que muitos acreditavam que suas peças eram obra do próprio mestre.
Ainda jovem, Geraldo formou sua primeira clientela e passou a produzir com autonomia. Mas nem tudo era fácil. Ele se lembra do desafio de controlar a transpiração nas mãos — um obstáculo que o compeliu a trabalhar também suas emoções. Foi um aprendizado que moldou tanto o ourives quanto o ser humano. Trabalhar na joalheria Francesca Romana ampliou ainda mais seu repertório, permitindo contato com novos estilos e vivências que enriqueceram sua visão sobre a arte de fazer joias.

Nos anos 1990, a vontade de ensinar começou a ganhar corpo. Em sua própria casa, dividia a bancada com Wagner Rocha: ensinava ourivesaria e aprendia desenho de joias. Mais tarde, ministrou aulas na pós-graduação em museologia sobre ourivesaria em museus, na Escola de Sociologia e Política. Sem Internet e com bibliografia escassa, teve que se desdobrar entre bibliotecas e livros raros — uma verdadeira aventura intelectual.

Em 1999, experimentou dar aula formalmente pela primeira vez, ao substituir o amigo Rodolfo Penteado, no Espaço Mix. A satisfação foi tamanha que, ao montar uma oficina compartilhada no Itaim Bibi, reservou duas bancadas para receber alguns alunos. Contudo, seu sonho era maior: queria abrir uma escola. Uma escola de verdade. Sabia que a ourivesaria era vista como um campo fechado, inacessível, e decidiu mudar essa realidade.
Foram nove meses procurando o espaço ideal, acompanhado da amiga e aluna Nara Kassinoff. Sempre que encontrava algo promissor, chamava Margot – sua esposa e grande incentivadora – para visitar. Quando enfim encontraram o local perfeito, em julho de 2005, foi como um parto. Nascia o “Ateliê Geraldo Labriola”. Com verba curta e muito apoio — especialmente de parceiros como Luiz, da Fergold Fornitura — montou as primeiras bancadas e abriu as portas.

Os primeiros alunos chegaram no “boca a boca”, dispostos a ficar pelo menos seis meses. Nara e Maurício Wolf foram fundamentais nesse processo. Ainda não havia redes sociais, e quase nada de propaganda. A produção de joias continuava sendo seu ofício principal e ajudava a equilibrar os recursos financeiros. Entretanto, pouco a pouco, a escola se impôs como vocação maior.

Geraldo costumava ouvir de uma amiga que, para o universo construir o caminho, era preciso dar o primeiro passo. E ele deu. Com coragem, suor e sensibilidade, o que era apenas um sonho do aprendiz de ourivesaria virou uma escola. E, com ela, um espaço para que outras pessoas também pudessem se descobrir criadoras de suas próprias histórias.

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