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As mulheres e o mundo das joias

Atualizado: 29 de mar.

A década era de 70, mas a mentalidade de muitas mulheres já estava bem à frente daquele tempo. Talvez faltasse oportunidade no mercado de trabalho como um todo e no universo da ourivesaria em especial. A imagem do ofício de ourives como campo predominantemente masculino, entretanto, não foi impeditivo para que algumas pioneiras abrissem as primeiras portas. Ou melhor, as primeiras bancadas!




Em uma época em que a aproximação da arte à técnica se dava principalmente por meio das escolas de desenho industrial e de artes plásticas, elas romperam a bolha do preconceito. Entre elas, constam as brasileiras Ulla Johnsen, Clementina Duarte, Reny Golcman, Miriam Mirna Korolkovas e Paula Mourão. Mulheres potentes, criativas, incentivadoras do protagonismo feminino na ourivesaria, revolucionárias do mercado de joias com seus diferentes estilos. Essas e outras mulheres que vieram depois conquistaram espaço definitivo, seja como joalheiras, designers e até mesmo como mestres ourives. E ninguém melhor do que a Katia Teivelis, Assistente de Ourives aqui no Ateliê Labriola, que viveu a intensidade desse período na década de 80, para nos contar um pouco sobre os desafios das mulheres na ourivesaria artesanal.



Clementina Duarte


A trajetória dela é marcada pelo encantamento por suas tias joalheiras, de quem sempre guardou lembranças muito positivas. Embora elas não confeccionassem joias, estavam mergulhadas na sua comercialização. Mesmo lidando com peças robustas, de valor expressivo, suas tias circulavam despreocupadas pela cidade. Uma delas, A Anita Burdmann, morava no Bom Retiro, em São Paulo; a outra, Sofia Teivelis, em Del Castilho, no Rio de Janeiro. Em várias ocasiões, elas levavam a Katia de ônibus para visitar as clientes em casa. Era assim que se fazia quando ainda não havia muitas joalherias disponíveis na cidade. Esse ir e vir conferia um tom de liberdade e autonomia àquelas mulheres, que também sustentavam suas famílias com o trabalho. Isso ficou registrado na memória da sobrinha como um convite tentador para persistir no caminho. Alguns anos se passaram até que Katia começou a se envolver com o processo de criação e confecção de joias, trabalhando diretamente com alguns mestres incríveis.


Katia Teivelis


Ela se lembra com detalhes da época em que começou a frequentar as oficinas de joias, um mundo ainda dominado por homens. Conforme recorda, esses locais não eram considerados ambientes apropriados para mulheres, e raramente se encontravam ateliês mistos. Porém, já se notava maior inserção feminina no mercado de joias artesanais e Katia sempre recebeu grande incentivo por onde passava, sendo respeitada por seus colegas. Ela também percebia que não se tratava apenas de uma coincidência do seu círculo de trabalho. A mentalidade das pessoas estava mudando, e crescia o entendimento de que as mulheres estavam, gradativamente, se estabelecendo na ourivesaria artesanal, reivindicando para si o status de "mestre ourives".


A joia deixou de ser um acessório para se tornar objeto de trabalho das mulheres. Romper com o paradigma masculino nesse campo foi mera questão de tempo, pois talento nunca faltou a elas. Em geral, as mulheres são grandes consumidoras de joias, então é natural que também se interessem pela arte de produzi-las. Se no ápice do design de joias, na década de 90, elas se destacavam mais como joalheiras ou como designers, não demorou muito para serem reconhecidas como ourives. Inclusive, como observa Katia, há muito mais mulheres nos cursos de ourivesaria do que homens atualmente. A forma de trabalhar pode dar a impressão de ser um ofício mais favorável aos homens, todavia isso é um engano. A ourivesaria não exige força física extraordinária que impeça as mulheres de se dedicarem à profissão.



MIriam Mirna Korolkovas


Os desafios que as mulheres enfrentavam para trabalhar na ourivesaria, nas décadas de 70 e 80, talvez tenham sido semelhantes aos existentes também em outras profissões, pois em uma sociedade desigual e pouco inclusiva, qualquer campo de trabalho impõe obstáculos. Por outro lado, com sua resiliência, determinação e muita criatividade, as mulheres ourives têm conquistado mudanças significativas, ampliando cada vez mais sua contribuição para o mercado de joias, garantindo que vieram para ficar!


Temos muitos exemplos vivos dessa conquista feminina no Ateliê Labriola. Embora nossa escola seja mista, é fato que as mulheres são a maioria por aqui também. Ficamos sempre positivamente impressionados com o empreendedorismo delas e já testemunhamos várias marcas sendo lançadas ao longo do curso regular de Joalheria Artesanal. Muito nos orgulha poder contribuir para consolidar a presença das mulheres no universo da ourivesaria.



Lys Macedo - autora da marca Lys Joalheria Artesanal e professora de ourivesaria no Ateliê Labriola


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